terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

UM OLHAR SOBRE O MODELO DE ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
CABRAL, Lêda Ferreira[1]
LENZI, Vera Lúcia Mendes[2]
Várias escolas no estado de São Paulo, assim como no país, estão participando do processo de adesão à escola de educação de tempo integral. No estado de São Paulo, na rede estadual de ensino, atualmente há 229 escolas de tempo integral que oferecem atividades aos estudantes no contraturno. E há também um novo modelo de Educação de Tempo Integral que atende a 308 escolas (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. São Paulo, 2016). Nesse novo modelo, os alunos têm uma matriz diferenciada e contam com uma jornada de 9h diárias na escola. Neste estudo, quando se menciona escola de tempo integral, refere-se a este novo modelo.
A escola campo de estágio, segundo seu Projeto Político Pedagógico, aderiu a este novo modelo escola de tempo integral no ano de 2014. A escola conta com uma matriz curricular diferenciada, em que os alunos cursam os componentes curriculares da Base Nacional Curricular Comum: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Matemática, Química, Física, Biologia, História, Geografia, Filosofia e Sociologia. E a parte diversificada do currículo compõe-se por: Língua Estrangeira, Disciplinas Eletivas, Práticas de Ciências, Orientação de Estudos, Projetos de Vida, Preparação Acadêmica e Mundo do Trabalho. A preparação acadêmica é oferecida para os alunos do 2º e 3º ano do Ensino Médio, e o componente Mundo do Trabalho é oferecido apenas para os alunos que estão cursando o 3º ano. Nas disciplinas eletivas, os estudantes escolhem as temáticas de estudo para o bimestre de acordo com seu objetivo.
De acordo com as Diretrizes do Programa de Ensino Integral do Estado de São Paulo (2014), os princípios fundamentais que regem a concepção da escola de tempo integral são: a educação interdimensional, pedagogia da presença, protagonismo juvenil e os quatro pilares da educação para o século XXI. As premissas que fundamentam a prática da escola são: formação continuada, corresponsabilidade, protagonismo juvenil, reaplicabilidade e excelência em gestão.
Nessa perspectiva, ainda de acordo com as Diretrizes do Programa Ensino Integral, o princípio da educação interdimensional vai além do processo interdisciplinar. É uma percepção do homem como um ser envolto em um processo social, político e cultural. O processo educacional deve favorecer a interação dos estudantes a fim de se perceberem enquanto seres que estão no mundo em meio a diferentes situações, seja com a natureza, seja com as questões sociais, econômicas, políticas e culturais do contexto ao qual está inserido (SÃO PAULO, Diretrizes do Programa Ensino Integral, 2014).
Outro princípio fundamental no projeto de ensino integral é o que Costa (1991) denomina pedagogia da presença. Esse princípio coloca o professor com papel importante nessa metodologia de ensino, devendo estar sempre em constante formação para lidar com as demandas que surgem no ambiente escolar de modo eficaz e prazeroso. Ainda segundo o autor, ele precisa estar apto a lidar com as tecnologias, com os diferentes recursos para auxiliar os alunos no processo de ensino e aprendizagem, despertando o interesse do educando pelo conhecimento. É fazer-se presente na vida do educando e no seu processo de aprendizagem em todas as dimensões.
O protagonismo juvenil pressupõe a atuação do jovem ao mesmo tempo como sujeito e objeto das suas ações, visando ao desenvolvimento de suas competências e habilidades nas diversas dimensões formativas, ou seja, o “Ensino Integral tem como principal objetivo a formação de jovens autônomos, competentes e solidários”. (SÃO PAULO, Diretrizes do Programa Ensino Integral, 2014, p. 15). Nesse processo o aluno é ator principal do seu processo de formação.
Os líderes de turmas têm a possibilidade de exercer a sua capacidade de liderança em prol do andamento de sua turma, sendo exemplo e referência para os demais colegas, fonte de inspiração para mudanças de atitudes, participando da vida da escola, na solução de conflitos e tomadas de decisões. Na dinâmica da escola, há espaços de reuniões com a gestão escolar e os líderes de turma.
Na dinâmica da escola de tempo Integral, os alunos participam de clubes juvenis, visando oportunizar espaços para o desenvolvimento do protagonismo juvenil e, por meio dos projetos de vida, eles desenvolvem atividades ligadas ao exercício da cidadania e também à vivência de práticas de solidariedade. Nessas atividades e nessa perspectiva de ensino, os alunos planejam e organizam as atividades dos clubes juvenis.
A concepção de educação que respalda a proposta da escola é uma educação transformadora, que vê o aluno como um ser ativo e participativo no seu processo de aprendizagem e não como um ser passivo no processo de ensino, no qual o professor e a escola depositam saberes (FREIRE, 2004).
A teoria de desenvolvimento que predomina no dia a dia da escola e em seus documentos é a interacionista de desenvolvimento, que concebe o ser humano em suas relações com o meio social ao qual está inserido e em constante transformação (VYGOTSKY, 2001).
Nas escolas que oferecem Ensino Médio em tempo integral, a permanência na escola é de 9 horas diárias. No período das 07h às 16h, são desenvolvidas atividades do currículo comum e também da parte diversificada do currículo. Das 16h às 17h, são atividades esportivas com os alunos e também atividades abertas à comunidade. Os alunos têm dois intervalos pela manhã – um de 15 minutos para lanche e outro, das 12h às 13h, com 1 hora para o almoço, que ocorre na própria escola; à tarde, ocorre outro intervalo de 15 minutos para lanche.
Compõem a parte diversificada as disciplinas eletivas, as quais devem considerar a interdisciplinaridade como fio condutor do processo de ensino e aprendizagem para favorecer o estabelecimento de relações entre os temas de estudo e diferentes áreas do conhecimento.
As disciplinas eletivas devem favorecer o engajamento dos estudantes nos seus projetos de vidas, na vivência da dinâmica da escola e também da comunidade do seu entorno. Nessas disciplinas, os alunos desenvolvem projetos voltados para a realidade local, visando ao desenvolvimento do protagonismo juvenil, que conforme já evidenciado, é um dos princípios da educação de tempo integral.
O projeto de ensino integral não envolve somente a questão pedagógica, mas também todos os atores do processo educacional, assim como suas interfaces. A formação docente aparece como uma das premissas do ensino integral, já que, para atender a demanda dos alunos, o docente necessita estar em constante formação, tanto no domínio das tecnologias cada vez mais presentes no contexto educacional, quanto no uso das diferentes metodologias que favorecem o ensino na perspectiva interdimensional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que a Educação Integral está ligada aos processos formativos na perspectiva de um ensino global, comprometida com a ideia de que o aluno é o centro do processo de ensino aprendizagem e que ele é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto nesse processo. A educação, nesse sentido, abrange tanto os espaços formais quanto informais em que os estudantes terão a oportunidade de desenvolver o protagonismo juvenil, sua autonomia, a cooperação e a solidariedade, princípios importantes nesse modelo de ensino.
Observou-se ainda que a discussão do ensino integral não é recente, pois já constava tanto na Constituição, quanto na Lei de Diretrizes e Bases Nacionais, mas que sua operacionalização na realidade do ensino brasileiro tem se configurado como um fenômeno gradual, recente e ainda incipiente.
A operacionalização desse modelo de ensino, com fins de alcançar seus princípios fundamentais da educação interdimensional, pedagogia da presença, protagonismo juvenil e os quatro pilares da educação para o século XXI, deve abranger processos formativos que se desenvolvem em todos os espaços de convivência, culturais ou sociais, sejam formais ou informais. Isso porque a concepção de educação integral está aliada à concepção de formação integral do indivíduo, envolvendo os diferentes sujeitos e instrumentos do processo educacional.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio).  Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2000.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação: Lei nº 9424, de dezembro de 1996.
COSTA, A.C.G. Por Uma Pedagogia da Presença. Brasília: Ministério da Ação Social, 1991.
DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a Descobrir “Relatório para a UNESCO da Comissão internacional sobre Educação para o Século XXI”. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
FREIRE, Paulo.  Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. 148 p.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004.
Projeto Político Pedagógico. Disponível no Plano de Gestão 2015 da Estadual Prof. Marciano de Toledo Piza. Equipe Escolar.
SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Diretrizes do Programa Ensino Integral. Imprensa Oficial, SE. 2014
SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Projeto de Vida – Ensino Fundamental. Caderno do Professor. Imprensa Oficial, SE, 2014.
VYGOTSKY, Levi Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. (Trad: Paulo Bezerra). São Paulo: Martins Fontes. 2001.


[1]Mestre e Doutoranda em Educação Matemática Pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho- UNESP-RC. Licenciada em Matemática pela Universidade Estadual do Maranhão- UEMA e em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional UNINTER
[2] Professora Orientadora do Centro Universitário Internacional UNINTER.

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