terça-feira, 6 de novembro de 2018

AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DA LINGUAGEM (Recorte de texto)
Sabemos que não se entra em sala de aula sem antes ter a consciência de dois pontos básicos: por que ensinamos o que ensinamos e como ensinamos o que ensinamos.
TRAVAGLIA (1996: 10) insiste que não bom ensino sem o conhecimento profundo do objeto de ensino “no nosso caso, da língua Portuguesa e dos elementos que dão forma ao que realizamos na sala de aula em função de muitas opções que fazemos e que não fazemos.
O mais importante é perceber que existe a possibilidade de se trilharem vários caminhos, e o professor deve estar atento para optar por aquele que seja mais pertinente e produtivo para as suas atividades em sala de aula.
Agora, vamos fazer mais um questionamento: para que os alunos aprendem o que aprendem?
Justamente a resposta, ou respostas, a essas perguntas envolve uma concepção de linguagem e também uma postura nossa para com a educação que, no nosso caso especifico, tem a ver com a língua materna.
Relativamente ao que se pensa sobre a língua/linguagem pode ser resumida em três concepções sobre as quais vamos refletir agora.
1ª concepção: linguagem com expressão do pensamento
É a mais antiga das concepções, muito presente entre nós. Segundo ela o homem representa para si o mundo através da linguagem. Representar, então, significa refletir e, desse modo, a língua é o reflexo do pensamento e conhecimento de mundo que o homem tem.
Assim, para tudo que se tem a dizer há uma expressão adequada, pronta e disponível: com ela, vamos representando um mundo e as ações que nele praticamos.
Nesta concepção, o sujeito da linguagem corresponde à linguagem do sujeito psicológico, individual, dono de sua vontade e de sua s ações. Trata-se de um sujeito determinado pelo ego que constrói uma representação metal e deseja que essa representação mental seja percebida pelo seu interlocutor da mesma forma como ela foi mentalizada.
Surge, então, a um conceito sobre o qual temos que tomar bastante cuidado. Vejamos.
Nesse modo de entender a linguagem, se a pessoa não sabe se expressar é porque ela não pensa. É como se a linguagem fosse a exteriorização, uma tradução daquilo que se constrói no interior da mente. Assim, a linguagem é um ato individual, que não é influenciado pelo outro nem pelas circunstâncias da situação social em que a linguagem ocorre.
A linguagem, então, será bem articulada e organizada como consequência da capacidade de cada um organizar de maneira lógica o seu pensamento.
A nossa conhecida Gramática Tradicional (ou normativa, ou prescritiva) tem como base essa concepção de linguagem: as normas gramaticais do falar e escrever “bem” representam uma boa organização mental dos indivíduos que as usam.
Observe, professor, que o preconceito está justamente aí, à medida que exclui aquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de aprender a Gramatica Tradicional. Seria o caso de dizer que essas pessoas não sabem pensar?
2ª concepção: linguagem como instrumento de informação
A linguagem é como instrumento da comunicação: por meio dessa concepção, a língua é vista apenas como código (conjunto de signos que se combinam de acordo com regras) e que possibilita a transmissão ao receptor de uma determinada mensagem (informações). Há apenas uma possibilidade de entender a mensagem – aquela dada pelo autor (emissor). Assim, o que se dizer fala por si e cabe ao receptor (destinatário) entender e assimilar.
Nessa concepção, o falante tem em sua mente uma mensagem para transmitir a um ouvinte, ou seja, informações que quer que cheguem ao outro. Para isso, ele coloca-a em código e remete-a para o outro através de um canal. O outro recebe os sinais codificados e transforma-os de novo em mensagens. É a decodificação.
Assim, como uso do código (que é a língua) é um ato social, envolve pelo menos duas pessoas – os interlocutores. Para que a comunicação seja estabelecida entre esses interlocutores, é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante, convencionado entre eles.
Aparece, então, o novo conceito de Gramática – a Gramática Descritiva. Essa Gramática admite a língua falada ou escrita como um dado variável, isto é, não uniforme. Gramatical será tudo o que atende às regras de funcionamento da língua de acordo com determinada variedade linguística. Assim, uma pessoa entende a mensagem da outra em função das características da variedade da língua que elas utilizam.
3ª concepção: linguagem como forma de interação
Segundo essa concepção, o indivíduo emprega a linguagem não só para expressar o pensamento ou para transmitir informações para um outro indivíduo, mas é o lugar de ação ou “inter-ação”.
Dessa forma, a linguagem é vista como uma atividade, com forma de ações que constitui e é constituída pelos sujeitos. A evidência de que as línguas só existem para promover a interação entre as pessoas, de forma funcional e contextualizada, pode, legitimamente, fundamentar de língua que seja, individual e socialmente, produtiva e relevante.
Baseado nesta concepção de linguagem é que os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam os seus princípios.
Qualquer pessoa que tenha acesso a esses princípios pode perceber que aí está uma grande colaboração para a atuação dos professores a fim de dar uma bela direção à s suas atividades de ensino da língua portuguesa, de uma maneira geral, e principalmente, aos nossos alunos jovens e adultos.
A Gramática, nesta perspectiva, viria incluída naturalmente, pois ela não entra em nossa atividade verbal porque e quando queremos: ela está incorporada na língua, é uma das condições para que uma língua seja uma língua (ANTUNES, 2013: 119).
Nesta concepção encontramos um bom suporte para as atividades de oralidade, leitura e escrita da língua portuguesa e, por isso, professor, sugere-se que partilhemos de suas reflexões.
Assim, o ensinar língua não pode ter outro objetivo senão o de chegar aos usos sociais desta língua, como ela acontece no dia a dia das pessoas. É a língua-em-função, que somente ocorre entre as pessoas, com alguma finalidade dentro de um determinado contexto.
Só desse modo se poderá ampliar a competência comunicativa do nosso aluno para falar, ouvir, ler e escrever textos fluentes, adequados e socialmente relevantes.
E como como a proposta é de uma linguagem interativa, temos que interagir com os nossos alunos, explicando-lhes o porquê de cada atividade: para que que a aquisição desta ou daquela noção ou habilidade é importante para eles.
Só assim podemos elaborar uma construção conjunta: Professor e alunos/ aluno e professor.
Um professor que nunca está pronto, mas aquele que se reinventa, que revê suas concepções, que se autocritica, se autoavalia... Um eterno aprendiz.

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