“Há escolas que são
gaiolas. Há escolas que são asas”.
GAIOLAS E ASAS – RUBEM ALVES
Escolas que são gaiolas
existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados
são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde
quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque
a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas
não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem
para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem
fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado.
Só pode ser encorajado.
O sujeito da educação é
o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder
viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja
função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era
“ferramenta” e “brinquedo” do corpo. Nisso se resume o programa educacional do
corpo: aprender “ferramentas”, aprender “brinquedos”.
“Ferramentas” são
conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia.
“Brinquedos” são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como
ferramentas, dão prazer e alegria à alma.
Nessas duas palavras,
ferramentas e brinquedos, está o resumo da educação. Ferramentas e brinquedos
não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do
mundo.
Brinquedos me permitem
voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está
aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescer…
Assim todo professor, ao ensinar, teria de se perguntar: “Isso que vou ensinar,
é ferramenta? É brinquedo?” Se não for, é melhor deixar de lado.
As estatísticas
oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados.
Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei
que há professores que amam o vôo dos seus alunos.
Há esperança…
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