quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A TEORIA DO PRÁTICO REFLEXIVO E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE (recortes de textos parte 3)
As ideias a respeito do pensamento reflexivo - "veículo pelo qual ocorre transformação" - se iniciaram na segunda década do século XX, com John Dewey, filósofo, psicólogo e pedagogo norte-americano, que influenciou intensamente o pensamento pedagógico contemporâneo, propondo as "cinco fases do pensamento reflexivo". Dewey acreditava que a procura do professor reflexivo deveria ser a busca do equilíbrio entre o ato e o pensamento. Essas idéias foram retomadas e se difundiram a partir da década de 80, com Donald Schön, sugerindo um modelo de "prática reflexiva", ou seja, reflexões do indivíduo sobre a experiência vivida.
A teoria sobre o prático reflexivo, difundida por Schön e outros autores que tratam do desenvolvimento profissional tem apontado a importância de se formar profissionais reflexivos, entendidos como bons profissionais. Schön tem se distinguido no campo da formação profissional, especialmente quando se trata de desenvolvimento profissional de professores, embora ele não tenha se dedicado exatamente a essa temática. Schön tornou-se conhecido internacionalmente a partir dos resultados obtidos em sua tese de doutorado sobre a formação dos profissionais da Arquitetura, cujo tema central foi a teoria da indagação de John Dewey. Nela, ele propõe que a formação dos profissionais não mais se dê nos moldes de um currículo normativo que primeiro apresenta a ciência, depois a sua aplicação e por último um estágio que supõe aplicações pelos alunos dos conhecimentos técnico profissionais.
O profissional assim formado, conforme sua análise, não consegue dar respostas às situações que emergem no dia-a-dia profissional, porque essas ultrapassam os conhecimentos elaborados pela ciência e as respostas técnicas que essa poderia oferecer ainda não estão formuladas. Dessa forma, os estudos realizados por Schön sobre os processos de formação do "profissional reflexivo", tornaram-se referência para muitas pesquisas e propostas no campo da formação de professores.
Nas abordagens sobre o prático reflexivo, Schön, critica a racionalidade técnica, por entender que esse tipo de racionalidade mecaniza o pensamento e nega o mundo real da prática vivida. Esse autor defende a idéia que a competência profissional não é gerada através de cursos ou de estudos certificados e sim por meio de reflexões sobre e durante a experiência vivida. Para Schön (1983), todas as metodologias reflexivas originam-se da prática. Ele afirma que, do ponto de vista da epistemologia da prática, o modelo da racionalidade técnica não consegue encontrar soluções para todos os problemas práticos, os quais constituem situações complexas.
Uma situação complexa não tem todas as suas variáveis definidas. Assim, não é possível prever todas as situações no planejamento antecipadamente à prática real. Para que o profissional possa sair-se bem dos problemas práticos, é necessário que esteja preparado para enfrentar situações novas que não foram previstas inicialmente. Isso exige a formação de decisões imediatas, para as quais o profissional adquire mais experiência em solucionar problemas inerentes à sua profissão, para tomar novas decisões.
REFERÊNCIAS
D'AMBRÓSIO, Beatriz S. Formação de professores de Matemática para o século XXI: o grande desafio. Pró-Posições. Campinas - SP, v. 4, n 1 [10], p. 35-41, mar. 1993.
D'AMBRÓSIO, Ubiratan, 1932. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas - SP: Papirus, 1996.
FIORENTINI, Dario e CASTRO, Franciana Carneiro. Tornando-se professor de Matemática: O Caso de Allan em prática de ensino e estágio supervisionado. In: FIORENTINI, Dario (org) Formação de professores de Matemática: explorando novos caminhos com outros olhares. Campinas - SP: Mercado de Letras, 2003.
FIORENTINI, Dario. Alguns modos de ver e conceber o ensino da Matemática no Brasil. Revista Zetetiké. Ano 3. nº 4 / 1995, p. 1-37. Campinas - SP: FE – CEMPEM.
GÓMEZ, Angel Pérez. O pensamento prático do professor. A formação do professor como profissional reflexivo. In: NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. 3 ed. Lisboa: Dom Quixote, 1997.
PEREZ, Geraldo. Formação de professores de Matemática sob a perspectiva do desenvolvimento profissional. In: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. Pesquisa em educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
PEREZ, Geraldo. Prática reflexiva do professor de Matemática. In: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani; BORBA, Marcelo de Carvalho. Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004.
PIMENTA, Selma Garrido. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro (orgs) Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.
SAVIANI, D. Educação: Do sendo comum à consciência filosófica. São Paulo, Cortez e Autores Associados, 1980.
ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: idéias e práticas. Trad. A. J. Carmona Teixeira, Maria João Carvalho e Maria Nóvoa. Lisboa: Educa, 1993.
SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem, trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
SCHÖN, Donald A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antônio (coord.) Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997, p. 77-114.

Nenhum comentário:

Postar um comentário