PROCESSOS E MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE
REFLEXIVA – TEXTO
DISSERTATIVO*
Ao se discutir os processos e métodos de
alfabetização no Brasil, a finalidade e a importância desse processo para as
camadas sociais mais carentes em nosso pais não poderemos esquecer do legado de
Paulo Freire. Na investigação e leituras de métodos de alfabetização, observamos
que existem uma discussão que nos leva a perceber que existe um modelo de
alfabetização antes e uma nova versão depois das ideias de Paulo Freire. O que
nos conduz a percepção que toda educação é um ato político, e assim a forma como
ela é direcionada depende do contexto social e da época em que se processa, e
como já dizia Gadotti:
A
educação é um fenômeno complexo, composto por um grande número de correntes,
vertentes, tendências e concepções, enraizadas em culturas e filosofias
diversas. Como toda educação é política, como nos ensinou Paulo Freire, ela não
é neutra, pois, necessariamente, implica princípios e valores que configuram
uma certa visão de mundo e de sociedade.
Diante
de muitas teorias e experiências na execução e acompanhamento do método de
alfabetização percebe-se de uma forma direta ou indireta as teorias de Freire,
é dada uma nova roupagem, novos contextos, uma vez que são novas realidades,
mas a semente plantada por Feire, é evidente. Uma vez que defendeu a educação
social na perspectiva de levar o educando a construir seu próprio conhecimento,
guiado e direcionado pelo seu cotidiano, sua história de vida, respeitando seus
limites, suas particularidades, seu conhecimento de mundo e sua percepção como
ser humano, respeitado as diversidades em todas suas dimensões, considerando
que: “Essa diversidade tem em comum o compromisso ético-político com a
transformação da sociedade, desde uma posição crítica, popular, política,
social e comunitária.” (Gadotti)
É
sabido que as crianças apresentam maior facilidade em aprender qualquer coisa,
inclusive e especialmente ler e escrever, uma vez que seu desenvolvimento
cognitivo nesta fase de idade é bem característico, mentalmente elas estão em
formação, mas isso não significa que adultos também não podem aprender. Com
esse conhecimento de causa, Paulo Freire criou, desenvolveu e aplicou seu
método de alfabetização para adultos.
Todo
processo educacional deveria ser social, pois o que se aprende na escola,
deveria ser para somar as orientações que se recebe em casa. Na escola e no
meio em que vivemos enquanto criança é que formamos a consciência que irá
definir de certa forma quem seremos enquanto adultos. Quando a escolarização ou
alfabetização chega em uma fase da vida em que já somos adultos, esta deve vir
para contribuir para que esse adulto compreenda melhor a sociedade ou
comunidade em que se vive, para que este seja capaz de decidir e opinar sobre
decisões que refletem na sociedade e principalmente no espaço ao qual se pertence.
E como diz Gadotti: “Para intervir e mudar o mundo que deseja transformar, ele
precisa conhecer a realidade onde atua, com os pés no chão, mas procurando
enxergar longe.”
Muitos
de nós, não tivemos condições de frequentar a escola, nem tão pouco de ser
alfabetizados pelos pais, ou mesmo em escolas informais, por motivos muitas
vezes de oportunidade, ou porque precisavam trabalhar para sobreviver e o tempo
que tinha de folga, o corpo e a mente já não permitia frequentar a sala de
aula.
Diante
da cruel realidade das desigualdades econômicas e sociais das famílias brasileiras,
talvez a melhor forma para diminuir esse problema seria a educação na
perspectiva social, dando condições das famílias se alfabetizarem. E para isso
nada mais adequado que utilizar um método que valorize sua realidade, seu
mundo. Como diz Paulo Freire: “A leitura do
mundo precede a leitura da palavra”, com essa afirmação, ele revela que o mundo
que se movimenta para o sujeito em seu contexto pode ser diferente do mundo da
escolarização. Dessa forma, a leitura das palavras na escolarização, ou de sua
escrita, de nada implicaria na leitura da realidade, contudo levaria a compreensão
do mundo partindo do seu prévio conhecimento.
Existem alguns métodos de alfabetização e de cada um podemos
aproveitar ou melhorar seu desenvolvimento e aplicação, entre eles estão os
Métodos Sintéticos, que se baseiam nas relações entre os sons e as
letras. A aprendizagem vai das partes (letras, sílabas, palavras) para o todo
(frases e textos), mantendo o distanciamento de contextos e significados. Entre
estes encontramos o método fônico que faz parte desse grupo de metodologias e
ensina crianças a associarem os sons com suas representações gráficas. Aqueles
que defendem sua prática dizem que sua abordagem sistemática orienta melhor as
crianças e garante o aprendizado. Por outro lado esses métodos sintéticos se
apoiam em práticas mecânicas, com foco em repetição, o que não é bem visto
entre os críticos do método. Temos também os Métodos Analíticos que partem do todo (textos, frases, palavras)
para as partes (sílabas) e rompem com abordagens que focam na decifração de
letras, como ocorre com o fônico. O Método global, que tem sua origem no
construtivismo é bem popular no Brasil, trabalha textos reais com as crianças, textos
esses que fazem parte do cotidiano delas, para que partindo da sua realidade as
crianças possam desenvolver melhor seu conhecimento sobre a escrita. Os
defensores deste método dizem que, o fato da contextualização dos exercícios, levam
as crianças se envolverem muito mais com o processo de alfabetização.
O
foco de Freire foi a Alfabetização de adultos, pois acreditava que só seria
possível uma mudança social através da educação e a alfabetização daqueles que eram
excluídos desse processo. Neste contexto ele identificava o alfabetizando
como sujeito da aprendizagem, portador de um conhecimento, de uma aprendizagem
que ocorre a partir das experiências, do diálogo, da leitura do mundo, da
concepção de alfabetização como construção de significados. Para isso
ele desenvolveu sua metodologia que partia da ideologia que a educação é um ato
criador, Uma vez que por meio dela o indivíduo se torna autônomo, livre e capaz
de tomar decisões com criticidade e discernimento. Sua metodologia era
inovadora, mais um método de aprender do que não de ensinar.
Seu método dialógico procurava trabalhar usando
o contexto social do alfabetizando, e tem como ponto principal a palavra dentro
do contexto da comunidade a ser desenvolvido sua metodologia, pois as palavras
precisam servir para as leituras da língua e releitura coletiva da realidade
social.
As
palavras são a menor unidade da pesquisa, assim como os fonemas das palavras
serão a menor unidade do método. Mas, aqui, as palavras não são só um
instrumento de leitura da língua; são também instrumentos de releitura coletiva
da realidade social onde a língua existe, e existem os homens que a falam e as
relações entre os homens. (BRANDÃO)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
As
discussões à cerca dos métodos usados para alfabetizar apontam que os
resultados negativos são em decorrência da forma de abordagens com os alunos e
não especificamente no método aplicado. Os índices educacionais apontam que
ainda existem no Brasil muitas crianças não estão sendo alfabetizadas na idade
certa, mas especialistas na área apontam que os métodos não superam sozinhos os
desafios de aprendizagem, uma vez que o processo de alfabetização em nossa
língua é bastante complexo. Soares afirma em seus textos, que no processo de
alfabetização a questão não é o método e sim alfabetizar sem método.
Freire
foi inovador em seu tempo e podemos dizer que até hoje é, considerou a educação
como ato social e valorizou a alfabetização através do diálogo e principalmente
como forma de emancipação daqueles que sempre são colocados a margem da nossa
sociedade e em total desigualdade social.
O importante deste estudo é perceber que os
bons resultados podem surgir à partir de um conjunto de práticas, que passa por
uma boa formação para os professores, pela participação das famílias e da
comunidade na educação, e principalmente pelo incentivo intencional à leitura em
casa e na escola e uma oferta generosa de livros, bem como as avaliações
periódicas que norteiam políticas educacionais.
REFERÊNCIAS
GADOTI,
Moacir. Educação Popular, Educação Social, Educação Comunitária: conceitos e
práticas diversas, cimentadas por uma causa comum. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RDL/article/viewFile/3909/2386.
BRANDÃO,
Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. Disponível em: http://www.apartilhadavida.com.br/wpcontent/uploads/2017/03/oque_metodo_paulo_freire.pdf.
*
NASCIMENTO, Cleide Coelho do; SILVA, Marlene Cardoso da. Texto dissertativo
apresentado à Disciplina Linguagem, Alfabetização e Letramento, ministrada pelo
Profª. Dra. Elen de Fátima Lago Barros Costa. Instituto Federal de Educação,
Ciência Tecnologia do Maranhão Campus Caxias. Coordenação do Curso de Pedagogia.
Curso de Licenciatura em Pedagogia – EPT. 2020.
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