quinta-feira, 6 de maio de 2021

PROCESSOS E MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE REFLEXIVA – TEXTO DISSERTATIVO*

Ao se discutir os processos e métodos de alfabetização no Brasil, a finalidade e a importância desse processo para as camadas sociais mais carentes em nosso pais não poderemos esquecer do legado de Paulo Freire. Na investigação e leituras de métodos de alfabetização, observamos que existem uma discussão que nos leva a perceber que existe um modelo de alfabetização antes e uma nova versão depois das ideias de Paulo Freire. O que nos conduz a percepção que toda educação é um ato político, e assim a forma como ela é direcionada depende do contexto social e da época em que se processa, e como já dizia Gadotti:

A educação é um fenômeno complexo, composto por um grande número de correntes, vertentes, tendências e concepções, enraizadas em culturas e filosofias diversas. Como toda educação é política, como nos ensinou Paulo Freire, ela não é neutra, pois, necessariamente, implica princípios e valores que configuram uma certa visão de mundo e de sociedade.

Diante de muitas teorias e experiências na execução e acompanhamento do método de alfabetização percebe-se de uma forma direta ou indireta as teorias de Freire, é dada uma nova roupagem, novos contextos, uma vez que são novas realidades, mas a semente plantada por Feire, é evidente. Uma vez que defendeu a educação social na perspectiva de levar o educando a construir seu próprio conhecimento, guiado e direcionado pelo seu cotidiano, sua história de vida, respeitando seus limites, suas particularidades, seu conhecimento de mundo e sua percepção como ser humano, respeitado as diversidades em todas suas dimensões, considerando que: “Essa diversidade tem em comum o compromisso ético-político com a transformação da sociedade, desde uma posição crítica, popular, política, social e comunitária.” (Gadotti)

É sabido que as crianças apresentam maior facilidade em aprender qualquer coisa, inclusive e especialmente ler e escrever, uma vez que seu desenvolvimento cognitivo nesta fase de idade é bem característico, mentalmente elas estão em formação, mas isso não significa que adultos também não podem aprender. Com esse conhecimento de causa, Paulo Freire criou, desenvolveu e aplicou seu método de alfabetização para adultos.

Todo processo educacional deveria ser social, pois o que se aprende na escola, deveria ser para somar as orientações que se recebe em casa. Na escola e no meio em que vivemos enquanto criança é que formamos a consciência que irá definir de certa forma quem seremos enquanto adultos. Quando a escolarização ou alfabetização chega em uma fase da vida em que já somos adultos, esta deve vir para contribuir para que esse adulto compreenda melhor a sociedade ou comunidade em que se vive, para que este seja capaz de decidir e opinar sobre decisões que refletem na sociedade e principalmente no espaço ao qual se pertence. E como diz Gadotti: “Para intervir e mudar o mundo que deseja transformar, ele precisa conhecer a realidade onde atua, com os pés no chão, mas procurando enxergar longe.”

Muitos de nós, não tivemos condições de frequentar a escola, nem tão pouco de ser alfabetizados pelos pais, ou mesmo em escolas informais, por motivos muitas vezes de oportunidade, ou porque precisavam trabalhar para sobreviver e o tempo que tinha de folga, o corpo e a mente já não permitia frequentar a sala de aula.

Diante da cruel realidade das desigualdades econômicas e sociais das famílias brasileiras, talvez a melhor forma para diminuir esse problema seria a educação na perspectiva social, dando condições das famílias se alfabetizarem. E para isso nada mais adequado que utilizar um método que valorize sua realidade, seu mundo. Como diz Paulo Freire: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, com essa afirmação, ele revela que o mundo que se movimenta para o sujeito em seu contexto pode ser diferente do mundo da escolarização. Dessa forma, a leitura das palavras na escolarização, ou de sua escrita, de nada implicaria na leitura da realidade, contudo levaria a compreensão do mundo partindo do seu prévio conhecimento.

Existem alguns métodos de alfabetização e de cada um podemos aproveitar ou melhorar seu desenvolvimento e aplicação, entre eles estão os Métodos Sintéticos, que se baseiam nas relações entre os sons e as letras. A aprendizagem vai das partes (letras, sílabas, palavras) para o todo (frases e textos), mantendo o distanciamento de contextos e significados. Entre estes encontramos o método fônico que faz parte desse grupo de metodologias e ensina crianças a associarem os sons com suas representações gráficas. Aqueles que defendem sua prática dizem que sua abordagem sistemática orienta melhor as crianças e garante o aprendizado. Por outro lado esses métodos sintéticos se apoiam em práticas mecânicas, com foco em repetição, o que não é bem visto entre os críticos do método. Temos também os Métodos Analíticos que partem do todo (textos, frases, palavras) para as partes (sílabas) e rompem com abordagens que focam na decifração de letras, como ocorre com o fônico. O Método global, que tem sua origem no construtivismo é bem popular no Brasil, trabalha textos reais com as crianças, textos esses que fazem parte do cotidiano delas, para que partindo da sua realidade as crianças possam desenvolver melhor seu conhecimento sobre a escrita. Os defensores deste método dizem que, o fato da contextualização dos exercícios, levam as crianças se envolverem muito mais com o processo de alfabetização.

O foco de Freire foi a Alfabetização de adultos, pois acreditava que só seria possível uma mudança social através da educação e a alfabetização daqueles que eram excluídos desse processo. Neste contexto ele identificava o alfabetizando como sujeito da aprendizagem, portador de um conhecimento, de uma aprendizagem que ocorre a partir das experiências, do diálogo, da leitura do mundo, da concepção de alfabetização como construção de significados. Para isso ele desenvolveu sua metodologia que partia da ideologia que a educação é um ato criador, Uma vez que por meio dela o indivíduo se torna autônomo, livre e capaz de tomar decisões com criticidade e discernimento. Sua metodologia era inovadora, mais um método de aprender do que não de ensinar.

Seu método dialógico procurava trabalhar usando o contexto social do alfabetizando, e tem como ponto principal a palavra dentro do contexto da comunidade a ser desenvolvido sua metodologia, pois as palavras precisam servir para as leituras da língua e releitura coletiva da realidade social.

As palavras são a menor unidade da pesquisa, assim como os fonemas das palavras serão a menor unidade do método. Mas, aqui, as palavras não são só um instrumento de leitura da língua; são também instrumentos de releitura coletiva da realidade social onde a língua existe, e existem os homens que a falam e as relações entre os homens. (BRANDÃO)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões à cerca dos métodos usados para alfabetizar apontam que os resultados negativos são em decorrência da forma de abordagens com os alunos e não especificamente no método aplicado. Os índices educacionais apontam que ainda existem no Brasil muitas crianças não estão sendo alfabetizadas na idade certa, mas especialistas na área apontam que os métodos não superam sozinhos os desafios de aprendizagem, uma vez que o processo de alfabetização em nossa língua é bastante complexo. Soares afirma em seus textos, que no processo de alfabetização a questão não é o método e sim alfabetizar sem método.

Freire foi inovador em seu tempo e podemos dizer que até hoje é, considerou a educação como ato social e valorizou a alfabetização através do diálogo e principalmente como forma de emancipação daqueles que sempre são colocados a margem da nossa sociedade e em total desigualdade social.

O importante deste estudo é perceber que os bons resultados podem surgir à partir de um conjunto de práticas, que passa por uma boa formação para os professores, pela participação das famílias e da comunidade na educação, e principalmente pelo incentivo intencional à leitura em casa e na escola e uma oferta generosa de livros, bem como as avaliações periódicas que norteiam políticas educacionais.

REFERÊNCIAS

GADOTI, Moacir. Educação Popular, Educação Social, Educação Comunitária: conceitos e práticas diversas, cimentadas por uma causa comum. Disponível em:  https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RDL/article/viewFile/3909/2386.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. Disponível em:  http://www.apartilhadavida.com.br/wpcontent/uploads/2017/03/oque_metodo_paulo_freire.pdf.

* NASCIMENTO, Cleide Coelho do; SILVA, Marlene Cardoso da. Texto dissertativo apresentado à Disciplina Linguagem, Alfabetização e Letramento, ministrada pelo Profª. Dra. Elen de Fátima Lago Barros Costa. Instituto Federal de Educação, Ciência Tecnologia do Maranhão Campus Caxias. Coordenação do Curso de Pedagogia. Curso de Licenciatura em Pedagogia – EPT. 2020.


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