A PRODUÇÃO DE TEXTOS NO UNIVERSO DAS CRIANÇAS COM ESCRITA PRÉ-SILÁBICA, SILÁBICA, SILÁBICA-ALFABÉTICA E ALFABÉTICA (*)
A apropriação da linguagem
escrita assume hoje dimensões muito complexas. Assim, o ato de escrever no
âmbito escolar apresenta-se como desafios aos educadores. Nessa perspectiva, é
fato que em tempos atrás o uso da língua escrita se dava a partir da junção das
sílabas para formação de palavras sem nenhuma contextualização. Conforme coloca
Cintra Martins (2008 p.52) “Essa nova abordagem traz profundas modificações
para o ensino-aprendizagem da escrita, pois definitivamente, não faz mais
sentido querer supor que se deve ensinar uma criança a escrever na base do
bê-á-bá”.
Segundo Emília Ferreiro a
(1999, p. 190) “obviamente a criança é também um produtor de textos desde a
tenra idade (...)”. Nessa perspectiva, a criança que é acostumada a observar o
uso diariamente da escrita, que desde pequena já usam, lápis e papel para
fazerem suas garatujas e rabiscos posteriormente elas imaginam histórias
interessantes. Conforme ainda assinala Teberosky & Ferreiro (1985 p. 191),
“Testando o aprendiz observa, estabelece relações, organiza, interioriza
conceitos, duvida deles e reelabora até chegar ao código alfabético usado pelo
adulto”. Desse modo, é coerente conhecer profundamente os níveis conceptuais
linguísticas, observar seus aspectos mais relevantes para obter um embasamento
teórico mais claro.
Entre as dificuldades
encontradas na execução da produção de textos estão: estudos aprofundados sobre
o tema, busca de uma conexão entre teoria e prática, falta de paciência para
questionar as crianças sobre o que escreveram. Segundo Emília Ferreiro (1985):
A escrita pré-sílábica,
apresenta fases distintas, tais como: fase pictórica, fase gráfica primitiva e
fase pré-silábica propriamente dita: já o silábico, quando a criança sente-se
mais confiante porque descobre que pode escrever com lógica. Conta os pedaços
sonoros. Essa noção de que cada sílaba corresponde a uma letra pode acontecer
com ou sem valor sonoro convencional. O nível silábico alfabético, assim, como
assinala a autora, por se tratar de um nível intermediário é mais uma vez um momento
conflitante. Mas é o momento que o valor sonoro torna-se imperioso e a criança
começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba. (Ferreiro 1985
p. 85)
Desse modo, todas estas
características especificas dos níveis conceptuais linguísticos implica que
tanto no nível pré-silábico como, o silábico e silábico-alfabético a escrita
realizada pela criança nessas etapas ninguém consegue ler o que ela escreve,
até que chegue ao nível alfabético, isto é, o nível que a criança chega a uma
compreensão da logicidade da base alfabética da escrita. Conforme afirma
Chomsky (1971): Se permita às crianças serem participantes ativas, ensinando a
si mesma a ler e escrever, de fato são elas que devem dirigir o processo já que
a mente de uma criança de 4, 5 e 6 anos está longe de ser um espaço vazio na
qual deve verter à informação vinculada à leitura e a escrita. (CHOMSKY 1971 p.
262)
Para analisarmos a escrita de
crianças pré-silábicas precisamos compreender inicialmente sua dimensão e
complexidade. Especificamente na fase pictórica, a fase em que a criança
registra garatujas, rabiscos e desenhos, essa escrita não se trata de uma
escrita qualquer, mas dos primeiros momentos em que começam se organizar para
chegar à escrita alfabética. Nessa concepção LUCY MCCORMICK (1989) coloca que:
“[...] Para mim, é essencial
que as crianças estejam profundamente envolvidas com a escrita, que
compartilhem seus textos com os outros e que percebam a si mesmos como autores.
Creio que estas coisas estão interconectadas. Uma sensação de autora nas e de
uma luta para imprimir no papel algo grande e vital e da observação de que as
próprias palavras, impressas atingem os corações e as mentes dos leitores
[...]”. (LUCY MCCORMICK 1989, p. 22)
Neste contexto, para
garantirmos que as crianças com hipóteses pré-silábica escrevam realmente é
fundamental propor que escreva e interpretam sua produção escrita utilizando o
conhecimento que dispõe e o professor com o seu papel fundamental de perguntar
o significado dos rabiscos e dos desenhos produzidos pelas crianças ou até
mesmo as letras utilizadas para escrever os textos. A partir desses desafios o
estudante tem a possibilidade de refletir sobre a escrita e avançar para os
níveis seguintes.
Para Jolibert (1994) a
produção textual aponta para dois pontos extremos: as marcas que caracterizam
os textos como, contos, fábulas e a estrutura textual de um bilhete
independente da hipótese de escrita que os meninos e as meninas se encontram.
Ao ingressar nas séries
iniciais do ensino fundamental, as crianças de seis anos, o sistema de escrita
já exerce forte influência no mundo delas. Desde muito cedo a linguagem escrita
invade a vida das crianças, apesar de lhes despertar tanta atenção elas ao
iniciar o aprendizado do sistema de escrita se encontram em vários níveis da
evolução da escrita. No entanto, a forma como a criança pode se apropriar desse
objeto do conhecimento é com ações pedagógicas que faz a criança tomar
consciência do mundo que o cerca. Nesse sentido, (Leontiev, 2001, pág. 120)
assinala: “Uma criança que domina o mundo que a rodeia é uma criança que se
esforça por atuar nesse mundo”.
Nessa linha pensamento podemos
afirmar que todas as dimensões que permeia a produção textual podemos dizer que
seria um erro irreparável privar as crianças de escrita pré-silábica, silábica,
silábico-alfabética e até mesmo as de escrita alfabética de produzir textos.
Neste caso o professor deve colocar-se no papel de escriba e registrar os
textos ditados pelos estudantes.
Referências
(* Material compilado)
FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
JOLIBERT Josette. Formando criança produtora de texto.
Porto Alegre. Artmed, 1994.
LERNER Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
MARTINS, Maria Silvia Cintra. Oralidade, escrita na infância.
Campinas, SP: Mercado das letras, 2008.
PARREIRAS, Ninfa. Confusão de línguas na Literatura: o que o adulto escreve, a
criança lê. Belo Horizonte: RHJ, 2009.
SABER, Maria da Glória. A escrita infantil: o caminho da construção. São Paulo: Scipione.
2009.
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