sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

 Indisciplina Escolar: Ponto de Reflexão

Cleide Coelho do Nascimento
Ana Lúcia Santos Marques da Silveira

Um dos maiores problemas que encontrei para desenvolver a prática docente foi o fato de a sala ser superlotada, muito quente, sem ventilação, além da indisciplina dos alunos, que em certos momentos, pareciam não saber o que era limite.
A indisciplina escolar é um problema que tem chamado a atenção de educadores e outros profissionais das demais áreas, principalmente da educação, que estão cada vez mais preocupados em descobrir os fatores que têm contribuído para o crescimento desta problemática.
A disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos alunos, para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os educandos em uma sala de aula, consequentemente na escola, que dá condições para o trabalho para toda a vida, tendo em vista que também o mercado de trabalho leva em consideração a capacidade de relacionar-se bem e trabalhar em equipe.
Segundo Gotzens (2003 p. 22):

A disciplina escolar não consiste em um receituário de propostas para enfrentar os problemas de comportamentos dos alunos, mas em um enfoque global da organização e da dinâmica do comportamento na escola e na sala de aula, coerente com os propósitos de ensino.  [...] Para isso é preciso, sempre que possível, antecipar-se ao aparecimento de problemas e só em último caso reparar os que inevitavelmente tiverem surgidos, seja por causa da própria situação de ensino, seja por fatores alheios à dinâmica escolar.

O cotidiano escolar traz muitas inquietações aos educadores devido ao comportamento dos alunos. Muitos dos professores têm medo de enfrentar a sala de aula, não por temerem não dominar o assunto, mas por temerem o modo como os alunos o receberão, pois, a indisciplina é de certa forma humilhante.
No entanto, é fundamental salientar que o problema da indisciplina não pode ser pensado isoladamente, porque de acordo com Franco em seu livro “Problemas de Educação escolar”, [...] a indisciplina não pode ser entendida de maneira estanque, como se fosse algo que dissesse respeito a este ou aquele envolvido com o processo. (1986, p. 13)
Uma das principais causas da indisciplina é a falta de limites do aluno, que implica na falta de respeito com a opinião e sentimentos alheios, apresenta dificuldades de compartilhar dialogar e conviver de modo cooperativo com o ponto de vista do outro.  A indisciplina em sala, ou na escola de maneira geral, não pode ser vista como reflexo da pobreza e da violência presente na sociedade.
O problema da indisciplina perpassa os muros da escola, o que nos leva a pensar na própria família, pois o relacionamento familiar contribui profundamente para o equilíbrio emocional do filho. A falta de interesse dos pais de conhecer e acompanhar a vida escolar de seus filhos também gera indisciplina, onde está subjacente à desvalorização da escola por parte dos pais, que nunca aparecem na escola, muito menos nas reuniões e não acompanham as lições de seus filhos em casa.
Assim sendo percebemos a importância do diálogo no espaço escolar entre professores, família e alunos, condição imprescindível para o êxito do processo ensino aprendizagem, premissa básica para manter a disciplina dentro da escola, pois estamos diante de um verdadeiro ambiente democrático e para que realmente se tenha sucesso neste ambiente, é necessário se ter disciplina, ou seja, limites, que podem ser negociados com os próprios alunos.
É necessário entender que na verdade, há uma relação dialógica, principalmente no que diz respeito aos educandos, pois descobrirão que o professor em sala de aula continua tendo sua autoridade garantida, mas que essa autoridade não significa autoritarismo ou obediência cega; em alguns momentos a liberdade que tanto desejam vai exigir-lhes responsabilidade ou ainda que disciplina seja o contrário de liberdade; os pares liberdade X responsabilidade, disciplina X autoridade, devem ser construído de forma coletiva e de modo colaborativo, em que não se perca de vista os objetivos pedagógicos.   

Referências

FRANCO, Luiz Antônio Carvalho. Problemas de educação escolar. São Paulo. MEC. 1998. Indisciplina em sala de aula. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

GOTIZENS, C. A disciplina escolar: prevenção e intervenções nos problemas de comportamento. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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