REFERENCIAL
TEÓRICO SOBRE
A TEMÁTICA BULLYING (RECORTE DO PROJETO BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR)*
A escola desempenha um papel de grande
importância no desenvolvimento social de crianças e adolescentes. Constitui-se
em um espaço de convivência e aprendizagem (Cantini, 2004), oportunizando a
socialização de jovens na cultura ocidental moderna (Lisboa & Koller,
2003). A escola proporciona a experiência de relações de hierarquia, vivências
de igualdade e convívio com as diferenças, que, dentre outras, terão influência
estruturante na formação do indivíduo (Cantini, 2004). Dessa forma, não pode
ser considerada apenas como um espaço destinado à aprendizagem formal ou ao
desenvolvimento cognitivo (Lisboa & Koller, 2003).
Segundo Lisboa (2005), as interações que
ocorrem no contexto escolar são caracterizadas pela forte atividade social. É
nesse ambiente que as crianças e os adolescentes têm a oportunidade de expandir
sua rede de interações e relações para além da família, desenvolvendo
autonomia, independência e aumentando sua percepção de pertencer ao contexto
social. As habilidades sociais, juntamente com as características de
personalidade, contribuem para determinar a forma com que o indivíduo se
relaciona com seus pares e tal aprendizagem serve como um treinamento para o
convívio em sociedade (Cantini, 2004).
Alguns comportamentos agressivos são esperados
durante a adolescência e podem até mesmo ter benefícios adaptativos (Hawley,
1999). Entretanto, a agressão entre os pares não deve ser negligenciada ou
tratada como parte do desenvolvimento. O bullying é um problema sério e pode
trazer consequências graves aos envolvidos. Pesquisas têm associado à
experiência de vitimização à baixa autoestima, sintomas físicos e emocionais,
ansiedade, medo, cefaleia, enurese, evitação escolar, depressão, ideias
suicidas e suicídio, entre outros (Bandeira, 2009; Berger, 2007; Cantini, 2004;
Lopes, 2005; Olweus, 1993). Os efeitos do envolvimento em bullying podem
persistir por toda a vida escolar e durante a vida adulta (Rigby, 1998; Olweus,
1993). A adolescência é identificada na literatura como sendo o período de
maior ocorrência de bullying (Kenny, Mceachern, & Aluede, 2005). Estudos
apontam que o momento de maior incidência dos episódios de bullying e violência
escolar ocorrem entre os nove e os quinze anos de idade (Rolim, 2008).
O bullying tem sido classificado em diferentes tipos
que incluem o físico, verbal, relacional e eletrônico (Berger, 2007). O tipo
físico envolve socos, chutes, pontapés, empurrões, bem como roubo de lanche ou
material. A tendência é que este tipo de ataque diminua com a idade. O tipo
verbal inclui práticas que consistem em insultar e atribuir apelidos
vergonhosos ou humilhantes (Berger, 2007; Rolim, 2008). Esta forma é mais comum
do que o tipo físico, principalmente com o avanço da idade. O tipo relacional é
aquele que afeta o relacionamento social da vítima com seus colegas. Ocorre
quando um adolescente ignora a tentativa de aproximação de um colega
deliberadamente.
Este tipo se torna mais prevalente e
prejudicial a partir da puberdade, uma vez que as crianças aprimoram mais suas
habilidades sociais e a aprovação dos pares se torna essencial (Berger, 2007).
O tipo eletrônico, ou cyberbullying, ocorre quando os ataques são feitos por
vias eletrônicas. Esta forma inclui bullying através de e-mail, mensagens
instantâneas, salas de bate-papo, web site ou através de mensagens digitais ou
imagens enviadas pelo celular (Berger, 2007).
As ações de prevenção e combate ao bullying
devem incluir incialmente o conhecimento, por parte de toda a comunidade
escolar, acerca do fenômeno. Devem ser instituídas políticas públicas que
priorizem a redução e prevenção do bullying nas escolas de todo o país. É
necessário investimento e treinamento de profissionais da área da educação para
elaboração e execução de programas de prevenção ao bullying. Torna-se
necessária a tomada de consciência das graves consequências desse fenômeno que
merece a atenção de pesquisadores, professores e profissionais que atuam nas
escolas, pais e comunidade em geral.
Algumas Referências para
consulta
ALMEIDA, A., LISBOA, C., & CAURCEL, M. J. ¿Porqué
ocurren los malos tratos entre iguales? Explicaciones causales de adolescentes
portugueses y brasileños. Revista Interamericana de Psicologia, 41(2), 2007,
p. 107-118.
BERGER,
K. S. Update on bullying at school:
Science forgoten? Developmental Review, 2007, p. 27, 90-126.
CANTINI, N. Problematizando o bullying para a realidade
brasileira. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia do Centro de Ciências da Vida, Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, Campinas, São Paulo, 2004
HAWLEY, P. H. The ontogenesis of social dominance: A
strategy-based evolutionary perspective. Developmental Review, 1999, p. 19,
97-132.
KENNY, M. C., MCEACHERN,
A. G., & ALUEDE, O. Female bullying:
Prevention and counseling interventions. Journal of Social Sciences, 2005,
p. 8, 13-19.
LISBOA, C. S. M. Comportamento agressivo, vitimização e
relações de amizade em crianças em idade escolar: fatores de risco e
proteção. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia do
Desenvolvimento, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2005.
LISBOA, C., &
Koller, S. H. Interações na escola e
processos de aprendizagem: fatores de risco e proteção. Em E. Boruchovitch
& J. A. Bzuneck (Eds.), Aprendizagem: processos psicológicos e o
contexto social na escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 201 – 224.
LOPES, A. A. N. Programa de reducción del comportamiento
agresivo entre estudiantes. Em C. B. Silva & C. M. Lisboa (Eds.), Violencia
escolar. Santiago de Chile: Universitária, 2005, p. 297-335.
OLWEUS, D. Bullying at school. What we know and what
we can do. Oxford, UK: Blackwell, 1993.
RIGBY, K. The relationship between reported health
and involvement in bully/victim problems among male and female secondary school
students. Journal of Health Psychology, 1998, p. 465-476.
ROLIM,
M. Bullying: o pesadelo da
escola, um estudo de caso e notas sobre o que fazer. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Instituto de Sociologia, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
*Compilação do Projeto: “BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR” apresentado à disciplina Organização do
Trabalho Pedagógico, ministrada pelo Prof. Thiago Coelho Silveira. Cursistas: Cleide
Coelho do Nascimento, Francisco Darlan Dantas Oliveira, Ivanylde Pinto dos Santos,
Luciana Sá dos Reis, Marciele Sousa da Silva, Marlene Cardoso da Silva. Curso
de Licenciatura em Pedagogia EPT. IFMA, Março 2020.
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