sábado, 6 de junho de 2020

REFERENCIAL TEÓRICO SOBRE A TEMÁTICA BULLYING (RECORTE DO PROJETO BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR)*
A escola desempenha um papel de grande importância no desenvolvimento social de crianças e adolescentes. Constitui-se em um espaço de convivência e aprendizagem (Cantini, 2004), oportunizando a socialização de jovens na cultura ocidental moderna (Lisboa & Koller, 2003). A escola proporciona a experiência de relações de hierarquia, vivências de igualdade e convívio com as diferenças, que, dentre outras, terão influência estruturante na formação do indivíduo (Cantini, 2004). Dessa forma, não pode ser considerada apenas como um espaço destinado à aprendizagem formal ou ao desenvolvimento cognitivo (Lisboa & Koller, 2003).
Segundo Lisboa (2005), as interações que ocorrem no contexto escolar são caracterizadas pela forte atividade social. É nesse ambiente que as crianças e os adolescentes têm a oportunidade de expandir sua rede de interações e relações para além da família, desenvolvendo autonomia, independência e aumentando sua percepção de pertencer ao contexto social. As habilidades sociais, juntamente com as características de personalidade, contribuem para determinar a forma com que o indivíduo se relaciona com seus pares e tal aprendizagem serve como um treinamento para o convívio em sociedade (Cantini, 2004).
Alguns comportamentos agressivos são esperados durante a adolescência e podem até mesmo ter benefícios adaptativos (Hawley, 1999). Entretanto, a agressão entre os pares não deve ser negligenciada ou tratada como parte do desenvolvimento. O bullying é um problema sério e pode trazer consequências graves aos envolvidos. Pesquisas têm associado à experiência de vitimização à baixa autoestima, sintomas físicos e emocionais, ansiedade, medo, cefaleia, enurese, evitação escolar, depressão, ideias suicidas e suicídio, entre outros (Bandeira, 2009; Berger, 2007; Cantini, 2004; Lopes, 2005; Olweus, 1993). Os efeitos do envolvimento em bullying podem persistir por toda a vida escolar e durante a vida adulta (Rigby, 1998; Olweus, 1993). A adolescência é identificada na literatura como sendo o período de maior ocorrência de bullying (Kenny, Mceachern, & Aluede, 2005). Estudos apontam que o momento de maior incidência dos episódios de bullying e violência escolar ocorrem entre os nove e os quinze anos de idade (Rolim, 2008).
O bullying tem sido classificado em diferentes tipos que incluem o físico, verbal, relacional e eletrônico (Berger, 2007). O tipo físico envolve socos, chutes, pontapés, empurrões, bem como roubo de lanche ou material. A tendência é que este tipo de ataque diminua com a idade. O tipo verbal inclui práticas que consistem em insultar e atribuir apelidos vergonhosos ou humilhantes (Berger, 2007; Rolim, 2008). Esta forma é mais comum do que o tipo físico, principalmente com o avanço da idade. O tipo relacional é aquele que afeta o relacionamento social da vítima com seus colegas. Ocorre quando um adolescente ignora a tentativa de aproximação de um colega deliberadamente.
Este tipo se torna mais prevalente e prejudicial a partir da puberdade, uma vez que as crianças aprimoram mais suas habilidades sociais e a aprovação dos pares se torna essencial (Berger, 2007). O tipo eletrônico, ou cyberbullying, ocorre quando os ataques são feitos por vias eletrônicas. Esta forma inclui bullying através de e-mail, mensagens instantâneas, salas de bate-papo, web site ou através de mensagens digitais ou imagens enviadas pelo celular (Berger, 2007).
As ações de prevenção e combate ao bullying devem incluir incialmente o conhecimento, por parte de toda a comunidade escolar, acerca do fenômeno. Devem ser instituídas políticas públicas que priorizem a redução e prevenção do bullying nas escolas de todo o país. É necessário investimento e treinamento de profissionais da área da educação para elaboração e execução de programas de prevenção ao bullying. Torna-se necessária a tomada de consciência das graves consequências desse fenômeno que merece a atenção de pesquisadores, professores e profissionais que atuam nas escolas, pais e comunidade em geral.
Algumas Referências para consulta
ALMEIDA, A., LISBOA, C., & CAURCEL, M. J. ¿Porqué ocurren los malos tratos entre iguales? Explicaciones causales de adolescentes portugueses y brasileñosRevista Interamericana de Psicologia, 41(2), 2007, p. 107-118.
BERGER, K. S. Update on bullying at school: Science forgoten? Developmental Review, 2007, p. 27, 90-126.
CANTINI, N. Problematizando o bullying para a realidade brasileira. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Centro de Ciências da Vida, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, São Paulo, 2004
HAWLEY, P. H. The ontogenesis of social dominance: A strategy-based evolutionary perspective. Developmental Review, 1999, p. 19, 97-132.         
KENNY, M. C., MCEACHERN, A. G., & ALUEDE, O. Female bullying: Prevention and counseling interventions. Journal of Social Sciences, 2005, p. 8, 13-19.
LISBOA, C. S. M. Comportamento agressivo, vitimização e relações de amizade em crianças em idade escolar: fatores de risco e proteção. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.         
LISBOA, C., & Koller, S. H. Interações na escola e processos de aprendizagem: fatores de risco e proteção. Em E. Boruchovitch & J. A. Bzuneck (Eds.), Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 201 – 224.       
LOPES, A. A. N. Programa de reducción del comportamiento agresivo entre estudiantes. Em C. B. Silva & C. M. Lisboa (Eds.), Violencia escolar. Santiago de Chile: Universitária, 2005, p. 297-335.
OLWEUS, D. Bullying at school. What we know and what we can do. Oxford, UK: Blackwell, 1993.       
RIGBY, K. The relationship between reported health and involvement in bully/victim problems among male and female secondary school students. Journal of Health Psychology, 1998, p. 465-476.         
ROLIM, M. Bullying: o pesadelo da escola, um estudo de caso e notas sobre o que fazer. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Instituto de Sociologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
*Compilação do Projeto: “BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR” apresentado à disciplina Organização do Trabalho Pedagógico, ministrada pelo Prof. Thiago Coelho Silveira. Cursistas: Cleide Coelho do Nascimento, Francisco Darlan Dantas Oliveira, Ivanylde Pinto dos Santos, Luciana Sá dos Reis, Marciele Sousa da Silva, Marlene Cardoso da Silva. Curso de Licenciatura em Pedagogia EPT. IFMA, Março 2020.

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