domingo, 6 de novembro de 2016

DILEMAS MORAIS: O QUE VOCÊ FARIA? (Recortes e Reflexões)
Prof. Esp. Francisco das C. M. dos Santos
Profa. Francisca G. da Silva
O texto: “Dilemas morais: o que você faria?” refere-se a estudos relativos a situações envolvendo 05 dilemas morais clássicos através dos quais os pesquisadores buscam relatar a opinião dos entrevistados acerca do que é certo ou errado.
O Primeiro dilema apresentado é:
O trem descontrolado
Um trem vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha. Mas você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto, salvando as 5 e matando 1? (SAKAMOTO 2011, p. 91).
Esse dilema moral foi apresentado a voluntários pelo filósofo e psicólogo evolutivo Joshua Greene, da Universidade Harvard. A maioria das pessoas diz que sim”, afirma Greene em um de seus artigos. De fato, numa pesquisa feita pela revista Time, 97% dos leitores salvariam os 5. Fazer isso significa agir conforme o utilitarismo – a doutrina criada pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século 19. Para ele, a moral está na consequência: a atitude mais correta é a que resulta na maior felicidade para o máximo de pessoas. Além disso, o ato de matar 1 para salvar 5 é o oposto do espírito dos direitos humanos, segundo o qual cada vida tem um valor inestimável em si – e não nos cabe usar valores racionais ao lidar com esse tema.
No segundo dilema temos a mesma situação, mas ao invés de usar a máquina, deve-se usar as próprias mãos para salvar as cinco vidas:
O trem descontrolado
Imagine a mesma situação anterior: um trem em disparada irá atingir 5 trabalhadores desprevenidos nos trilhos. Agora, porém, há uma linha só. O trem pode ser parado por algum objeto pesado jogado em sua frente. Um homem com uma mochila muito grande está ao lado da ferrovia. Se você empurrá-lo para a linha, o trem vai parar, salvando as 5 pessoas, mas liquidando uma. Você empurraria o homem da mochila para a linha? (SAKAMOTO 2011, p. 91-92).
Avaliando pela lógica pura, esse dilema não tem diferença em relação ao anterior. Continua sendo uma questão de trocar 1 indivíduo por 5. Apesar disso, a maioria das pessoas (75% nos estudos de Joshua Greene, 60% no teste da Time) não empurraria o homem. Conclusão: estamos dispostos a matar com máquinas, mas não mataríamos com as mãos. Para Greene, a diferença nas respostas aos dois dilemas pode ser explicada pela seleção natural. Assim, ao longo dos milênios, criamos instintos sociais que nos refreiam na hora de matar alguém.
Para Greene, a diferença de atitudes mostra que os filósofos que lidam com a moral devem levar mais em conta a natureza do homem – não para agirmos conforme a natureza, mas para superá-la. Tendo consciência de que nossos instintos nos tornam capazes de matar friamente por meio de uma alavanca ou de ignorar genocídios distantes, temos mais poder para decidir o que é ou não correto.
No terceiro dilema temos:
Totem e tabu
No seu país, a tortura de prisioneiros de guerra é proibida. Você é tenente do Exército e recebe um prisioneiro recém-capturado que grita: “Alguns de vocês morrerão às 21h35”. Suspeita-se que ele sabe de um ataque terrorista a uma boate. Para saber mais e salvar civis, você o torturaria? (SAKAMOTO 2011, p. 93).
Essa situação também se parece com as anteriores – pela razão pura, trata-se de salvar o maior número de vidas. Além do instinto básico de não-agressão apontado pelo cientista Joshua Greene, somos movidos por outra emoção primitiva: o nojo. É por isso que, em casos que provocam asco, como a tortura, costumamos agir conforme o absolutismo moral: as regras não devem ser transgredidas nem para salvar inocentes.
No quarto dilema temos:
Os limites da promessa
Um amigo quer lhe contar um segredo e pede que você prometa não contar a ninguém. Você dá sua palavra. Ele conta que atropelou um pedestre e, por isso, vai se refugiar na casa de uma prima. Quando a polícia o procura querendo saber do amigo, o que você faz? (SAKAMOTO 2011, p. 94).
O antropólogo holandês Fonz Trompenaars realizou pesquisas em diversos países com dilemas como esse. O mais interessante é que as respostas variaram de acordo com o povo. A princípio, saber que a moral muda de acordo com a cultura é importante para não julgarmos costumes de um povo como se fossem os nossos, descobrindo suas razões particulares. Foi o que propôs o antropólogo Franz Boas (1858-1942), considerado o pai do relativismo cultural – a ideia de que nenhuma cultura é melhor que outra. Mas, quando duas culturas diferentes se chocam, surgem dilemas morais ainda mais difíceis.
E finalizando temos o quinto dilema:
Choque cultural
Você é um funcionário da Funai, trabalhando na Amazônia sob ordem expressa de jamais intervir na cultura indígena. Passeando perto de uma clareira, nota que ianomâmis estão envenenando o bebê de uma índia, que está aos prantos. Você impediria a morte do bebê? (SAKAMOTO 2011, p. 95).
Nesse dilema são tratadas as tradições e choques culturais entre povos diferentes. E aí, o que vale mais: a vida humana ou o respeito às tradições de um povo? Se você acha que o certo é deixar a cultura acontecer, é um relativista cultural. Se considera o valor da vida maior que o das culturas, é um absolutista moral, como o papa Bento 16.
Talvez a solução do dilema esteja na hesitação dos pais. Ela mostra que o infanticídio não é um consenso entre os índios.
 Num artigo para o jornal New York Times, Pinker paradiou a tese de Chomski: “Nascemos com uma gramática moral que nos permite analisar as ações humanas mesmo que com pouca consciência disso”. Mas, como mostram os dilemas morais, nem sempre é fácil fazer essa análise.
REFERÊNCIAS
SAKAMOTO, Bernardo Alfredo Mayta. Introdução ao estudo da ética. São Luís: UemaNet, 2011.

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