AS
DIFERENTES CONCEPÇÕES DA LINGUAGEM (Recorte de texto)
Sabemos que não se entra em
sala de aula sem antes ter a consciência de dois pontos básicos: por que
ensinamos o que ensinamos e como ensinamos o que ensinamos.
TRAVAGLIA (1996: 10) insiste que não bom
ensino sem o conhecimento profundo do objeto de ensino “no nosso caso, da
língua Portuguesa e dos elementos que dão forma ao que realizamos na sala de
aula em função de muitas opções que fazemos e que não fazemos.
O mais importante é perceber que existe a
possibilidade de se trilharem vários caminhos, e o professor deve estar atento
para optar por aquele que seja mais pertinente e produtivo para as suas
atividades em sala de aula.
Agora, vamos fazer mais um
questionamento: para que os alunos aprendem o que aprendem?
Justamente a resposta, ou respostas, a essas
perguntas envolve uma concepção de linguagem e também uma postura nossa para
com a educação que, no nosso caso especifico, tem a ver com a língua materna.
Relativamente ao que se pensa sobre a língua/linguagem
pode ser resumida em três concepções sobre as quais vamos refletir agora.
1ª concepção: linguagem com
expressão do pensamento
É a mais antiga das concepções, muito
presente entre nós. Segundo ela o homem representa para si o mundo através da linguagem.
Representar, então, significa refletir e, desse modo, a língua é o reflexo do
pensamento e conhecimento de mundo que o homem tem.
Assim, para tudo que se tem a dizer há uma
expressão adequada, pronta e disponível: com ela, vamos representando um mundo
e as ações que nele praticamos.
Nesta concepção, o sujeito da linguagem
corresponde à linguagem do sujeito psicológico, individual, dono de sua vontade
e de sua s ações. Trata-se de um sujeito determinado pelo ego que constrói uma
representação metal e deseja que essa representação mental seja percebida pelo
seu interlocutor da mesma forma como ela foi mentalizada.
Surge, então, a um conceito
sobre o qual temos que tomar bastante cuidado. Vejamos.
Nesse modo de entender a linguagem, se a
pessoa não sabe se expressar é porque ela não pensa. É como se a linguagem
fosse a exteriorização, uma tradução daquilo que se constrói no interior da
mente. Assim, a linguagem é um ato individual, que não é influenciado pelo
outro nem pelas circunstâncias da situação social em que a linguagem ocorre.
A linguagem, então, será bem articulada e
organizada como consequência da capacidade de cada um organizar de maneira lógica
o seu pensamento.
A nossa conhecida Gramática Tradicional (ou
normativa, ou prescritiva) tem como base essa concepção de linguagem: as normas
gramaticais do falar e escrever “bem” representam uma boa organização mental
dos indivíduos que as usam.
Observe, professor, que o
preconceito está justamente aí, à medida que exclui aquelas pessoas que não
tiveram a oportunidade de aprender a Gramatica Tradicional. Seria o caso de
dizer que essas pessoas não sabem pensar?
2ª concepção: linguagem como
instrumento de informação
A linguagem é como instrumento da
comunicação: por meio dessa concepção, a língua é vista apenas como código
(conjunto de signos que se combinam de acordo com regras) e que possibilita a
transmissão ao receptor de uma determinada mensagem (informações). Há apenas
uma possibilidade de entender a mensagem – aquela dada pelo autor (emissor). Assim,
o que se dizer fala por si e cabe ao receptor (destinatário) entender e
assimilar.
Nessa concepção, o falante tem em sua mente uma
mensagem para transmitir a um ouvinte, ou seja, informações que quer que
cheguem ao outro. Para isso, ele coloca-a em código e remete-a para o outro
através de um canal. O outro recebe os sinais codificados e transforma-os de
novo em mensagens. É a decodificação.
Assim, como uso do código (que é a língua) é
um ato social, envolve pelo menos duas pessoas – os interlocutores. Para que a
comunicação seja estabelecida entre esses interlocutores, é necessário que o
código seja utilizado de maneira semelhante, convencionado entre eles.
Aparece, então, o novo
conceito de Gramática – a Gramática Descritiva. Essa Gramática admite a língua
falada ou escrita como um dado variável, isto é, não uniforme. Gramatical será
tudo o que atende às regras de funcionamento da língua de acordo com
determinada variedade linguística. Assim, uma pessoa entende a mensagem da
outra em função das características da variedade da língua que elas utilizam.
3ª concepção: linguagem como
forma de interação
Segundo essa concepção, o indivíduo emprega a
linguagem não só para expressar o pensamento ou para transmitir informações
para um outro indivíduo, mas é o lugar de ação ou “inter-ação”.
Dessa forma, a linguagem é vista como uma
atividade, com forma de ações que constitui e é constituída pelos sujeitos. A
evidência de que as línguas só existem para promover a interação entre as
pessoas, de forma funcional e contextualizada, pode, legitimamente, fundamentar
de língua que seja, individual e socialmente, produtiva e relevante.
Baseado nesta concepção de
linguagem é que os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam os seus
princípios.
Qualquer pessoa que tenha acesso a esses
princípios pode perceber que aí está uma grande colaboração para a atuação dos
professores a fim de dar uma bela direção à s suas atividades de ensino da
língua portuguesa, de uma maneira geral, e principalmente, aos nossos alunos
jovens e adultos.
A Gramática, nesta perspectiva, viria
incluída naturalmente, pois ela não entra em nossa atividade verbal porque e
quando queremos: ela está incorporada na língua, é uma das condições para que
uma língua seja uma língua (ANTUNES, 2013: 119).
Nesta concepção encontramos
um bom suporte para as atividades de oralidade, leitura e escrita da língua
portuguesa e, por isso, professor, sugere-se que partilhemos de suas reflexões.
Assim, o ensinar língua não pode ter outro
objetivo senão o de chegar aos usos sociais desta língua, como ela acontece no
dia a dia das pessoas. É a língua-em-função, que somente ocorre entre as
pessoas, com alguma finalidade dentro de um determinado contexto.
Só desse modo se poderá ampliar a competência
comunicativa do nosso aluno para falar, ouvir, ler e escrever textos fluentes,
adequados e socialmente relevantes.
E como como a proposta é de uma linguagem
interativa, temos que interagir com os nossos alunos, explicando-lhes o porquê
de cada atividade: para que que a aquisição desta ou daquela noção ou
habilidade é importante para eles.
Só assim podemos elaborar
uma construção conjunta: Professor e alunos/ aluno e professor.
Um
professor que nunca está pronto, mas aquele que se reinventa, que revê suas
concepções, que se autocritica, se autoavalia... Um eterno aprendiz.