POLÍTICAS DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE: MARCOS LEGAIS E NORMATIVOS (Unidade 1 – Parte 3)
Patto (2008, p. 34) afirma que
“a escola de fato inclusiva é a escola que esclarece, a partir da própria
experiência dos dominados” relata que desde o fim da ditadura no Brasil, o
sonho de uma escola pública mais igualitária assumiu várias formas promissoras,
e que da intenção a realidade o fosso sempre foi enorme. Assim percebe-se que o
problema das desigualdades no seio da escola não é novo, e nem uma exclusividade
vivida pelos alunos com necessidades educacionais especiais, mas porque isso
acontece? Segundo a mesma autora, a medicalização de desvios, definidos a
partir de um discutível conceito de normalidade, o entendimento da igualdade
como produção do uniforme e a formação do professor entendida como
aperfeiçoamento, treinamento ou reciclagem além das modas teóricas substituídas
e descartadas rapidamente entre outros fatores por ela citados, fizeram com que
o professor se tornasse um “peão de ensino”, com sua morte decretada, tornando-se
refém de políticas eleitoreiras e da descontinuidade técnica administrativa.
Um professor bem preparado,
consciente e liberto das condições acima citadas, certamente será capaz de
modificar sua prática educativa, não raro escutamos professores, principalmente
os que estão atuando há mais tempo, reclamando ou justificando que em sua graduação
não tiveram disciplinas voltadas para o atendimento das necessidades
específicas dos alunos com necessidades especiais educacionais, nos atuais
moldes instituídos. Assim, a questão não abrange somente casos onde professores
rejeitam a inclusão escolar e nada fazem para que ela se efetive, trata-se
também de professores conscientes de seu papel de educador; porém, que não
sabem o caminho a seguir, desconhecem as ferramentas a serem utilizadas e metodologias
viáveis a serem empregadas de acordo com cada necessidade específica de cada
aluno alvo da educação especial, que chega a sua sala de aula.
Dessa maneira, recebem os
alunos com necessidades educacionais especiais sem saber como atuar, como
coordenar o atendimento ao grupo respeitando as especificidades individuais e
coletivas. Logo, urge compreender que os professores estão em processo de
transformação de uma prática de ensino voltada para a unicidade do todo, o
homogêneo, para a uma prática voltada para as diferenças, o heterogêneo.
Esse movimento exige uma mudança nas formas de
produzir e transmitir o conhecimento pela escola e pela sociedade. Mudança, que
devemos reconhecer, ocorrerá de forma dificultosa e lenta, haja vista que estes
moldes de ensino estão enraizados na escola desde a criação das escolas para as
massas populacionais, no início da revolução industrial, período de transição
entre o feudalismo e o capitalismo industrial. O modelo de funcionamento da
escola, desde então, assemelha-se em muitos aspectos ao modelo de funcionamento
fabril ou industrial. Nesse sentido D'antino (1997) afirma que:
Podemos destacar que a
plena inclusão não se consolidará sob os pilares educacionais de uma sociedade
capitalista, competitiva, a qual preconiza o bom desempenho, a produtividade, o
vigor, a beleza, entre outras características, que talvez estejam distantes da
realidade de alguns alunos ditos “especiais” (D' ANTINO, 1997).
A mudança nessa estrutura e
consequentemente na cultura escolar, ao menos hipoteticamente, levariam a uma
nova forma de concepção sobre o aluno com necessidade educacional especial e
sobre a vigente prática excludente de inclusão escolar. Mendes (2008, p.116) explica
que a prática é resultado da cultura objetivada e da experiência compartilhada,
nossas ações são frutos dessas objetivações da cultura, assim, essa compreensão
torna-se também, segundo a autora, trilhas, caminhos e sulcos que guiam as
ações futuras. A escola que deseja ser inclusiva necessita desvendar essas trilhas,
esses caminhos condutores de ações futuras concebidas na perspectiva da
inclusão escolar, sulcos que nos façam perceber potenciais na diferença, e
conceber novas práticas de ensino que permitam a promoção da aprendizagem de
todos os alunos.
De acordo com Nascimento
(2011), nos cursos de licenciatura, esses conceitos têm sido abordados e
discutidos pelos professores e acadêmicos; esses últimos demonstram grande
interesse pela temática inclusão e educação especial, o que reforça a ideia de
que, o que falta, muitas vezes, para os professores que já estão em exercício,
são conhecimento e condições de acesso ao conhecimento para promover uma inclusão
significativa e não somente má vontade apregoada por alguns.
Além disso, fica difícil
conceber o sucesso de uma proposta de educação para todos em um espaço escolar
sucateado, com profissionais mal remunerados, muitas vezes com tripla jornada
de trabalho e com cursos de capacitação em inclusão escolar via multiplicadores.
A formação de
professores-multiplicadores tem em vista a formação de agentes de mudança,
capazes de desencadear as transformações educacionais com a disseminação do uso
de novas práticas pedagógicas ofertadas em cursos de capacitação e ou formação
continuada. “O multiplicador encarrega-se de apoiar o processo de planejamento
da escola, assessorar pedagogicamente os professores, acompanhar,orientar e
avaliar as ações dos professores e gestores educacionais” (LÓES, 2007, p. 36).
Referência
Material compilado na integra de: NASCIMENTO,
Ricardo Augusto Lins do. Acessibilidade e Inclusão. Licenciatura em Computação.
Ministério da Educação. Universidade Aberta do Brasil. Dourados: Universidade
Federal da Grande Dourados, 2014.
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