quarta-feira, 6 de julho de 2022

A PRODUÇÃO DE TEXTOS NO UNIVERSO DAS CRIANÇAS COM ESCRITA PRÉ-SILÁBICA, SILÁBICA, SILÁBICA-ALFABÉTICA E ALFABÉTICA (*)

A apropriação da linguagem escrita assume hoje dimensões muito complexas. Assim, o ato de escrever no âmbito escolar apresenta-se como desafios aos educadores. Nessa perspectiva, é fato que em tempos atrás o uso da língua escrita se dava a partir da junção das sílabas para formação de palavras sem nenhuma contextualização. Conforme coloca Cintra Martins (2008 p.52) “Essa nova abordagem traz profundas modificações para o ensino-aprendizagem da escrita, pois definitivamente, não faz mais sentido querer supor que se deve ensinar uma criança a escrever na base do bê-á-bá”.

Segundo Emília Ferreiro a (1999, p. 190) “obviamente a criança é também um produtor de textos desde a tenra idade (...)”. Nessa perspectiva, a criança que é acostumada a observar o uso diariamente da escrita, que desde pequena já usam, lápis e papel para fazerem suas garatujas e rabiscos posteriormente elas imaginam histórias interessantes. Conforme ainda assinala Teberosky & Ferreiro (1985 p. 191), “Testando o aprendiz observa, estabelece relações, organiza, interioriza conceitos, duvida deles e reelabora até chegar ao código alfabético usado pelo adulto”. Desse modo, é coerente conhecer profundamente os níveis conceptuais linguísticas, observar seus aspectos mais relevantes para obter um embasamento teórico mais claro.

Entre as dificuldades encontradas na execução da produção de textos estão: estudos aprofundados sobre o tema, busca de uma conexão entre teoria e prática, falta de paciência para questionar as crianças sobre o que escreveram. Segundo Emília Ferreiro (1985):

A escrita pré-sílábica, apresenta fases distintas, tais como: fase pictórica, fase gráfica primitiva e fase pré-silábica propriamente dita: já o silábico, quando a criança sente-se mais confiante porque descobre que pode escrever com lógica. Conta os pedaços sonoros. Essa noção de que cada sílaba corresponde a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro convencional. O nível silábico alfabético, assim, como assinala a autora, por se tratar de um nível intermediário é mais uma vez um momento conflitante. Mas é o momento que o valor sonoro torna-se imperioso e a criança começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba. (Ferreiro 1985 p. 85)

Desse modo, todas estas características especificas dos níveis conceptuais linguísticos implica que tanto no nível pré-silábico como, o silábico e silábico-alfabético a escrita realizada pela criança nessas etapas ninguém consegue ler o que ela escreve, até que chegue ao nível alfabético, isto é, o nível que a criança chega a uma compreensão da logicidade da base alfabética da escrita. Conforme afirma Chomsky (1971): Se permita às crianças serem participantes ativas, ensinando a si mesma a ler e escrever, de fato são elas que devem dirigir o processo já que a mente de uma criança de 4, 5 e 6 anos está longe de ser um espaço vazio na qual deve verter à informação vinculada à leitura e a escrita. (CHOMSKY 1971 p. 262)

Para analisarmos a escrita de crianças pré-silábicas precisamos compreender inicialmente sua dimensão e complexidade. Especificamente na fase pictórica, a fase em que a criança registra garatujas, rabiscos e desenhos, essa escrita não se trata de uma escrita qualquer, mas dos primeiros momentos em que começam se organizar para chegar à escrita alfabética. Nessa concepção LUCY MCCORMICK (1989) coloca que:

“[...] Para mim, é essencial que as crianças estejam profundamente envolvidas com a escrita, que compartilhem seus textos com os outros e que percebam a si mesmos como autores. Creio que estas coisas estão interconectadas. Uma sensação de autora nas e de uma luta para imprimir no papel algo grande e vital e da observação de que as próprias palavras, impressas atingem os corações e as mentes dos leitores [...]”. (LUCY MCCORMICK 1989, p. 22)

Neste contexto, para garantirmos que as crianças com hipóteses pré-silábica escrevam realmente é fundamental propor que escreva e interpretam sua produção escrita utilizando o conhecimento que dispõe e o professor com o seu papel fundamental de perguntar o significado dos rabiscos e dos desenhos produzidos pelas crianças ou até mesmo as letras utilizadas para escrever os textos. A partir desses desafios o estudante tem a possibilidade de refletir sobre a escrita e avançar para os níveis seguintes.

Para Jolibert (1994) a produção textual aponta para dois pontos extremos: as marcas que caracterizam os textos como, contos, fábulas e a estrutura textual de um bilhete independente da hipótese de escrita que os meninos e as meninas se encontram.

Ao ingressar nas séries iniciais do ensino fundamental, as crianças de seis anos, o sistema de escrita já exerce forte influência no mundo delas. Desde muito cedo a linguagem escrita invade a vida das crianças, apesar de lhes despertar tanta atenção elas ao iniciar o aprendizado do sistema de escrita se encontram em vários níveis da evolução da escrita. No entanto, a forma como a criança pode se apropriar desse objeto do conhecimento é com ações pedagógicas que faz a criança tomar consciência do mundo que o cerca. Nesse sentido, (Leontiev, 2001, pág. 120) assinala: “Uma criança que domina o mundo que a rodeia é uma criança que se esforça por atuar nesse mundo”.

Nessa linha pensamento podemos afirmar que todas as dimensões que permeia a produção textual podemos dizer que seria um erro irreparável privar as crianças de escrita pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e até mesmo as de escrita alfabética de produzir textos. Neste caso o professor deve colocar-se no papel de escriba e registrar os textos ditados pelos estudantes.

Referências (* Material compilado)

FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.

JOLIBERT Josette. Formando criança produtora de texto. Porto Alegre. Artmed, 1994.

LERNER Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

MARTINS, Maria Silvia Cintra. Oralidade, escrita na infância. Campinas, SP: Mercado das letras, 2008.

PARREIRAS, Ninfa. Confusão de línguas na Literatura: o que o adulto escreve, a criança lê. Belo Horizonte: RHJ, 2009.

SABER, Maria da Glória. A escrita infantil: o caminho da construção. São Paulo: Scipione. 2009.

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