A LINGUAGEM NA FILOSOFIA ANTES DA FILOSOFIA DA LINGUAGEM
(Filosofia da Linguagem – Resumo de Aula 01)
1
INTRODUÇÃO
A
Filosofia surge basicamente no ocidente a partir do momento que o Mythos deixa
de ser a forma exclusiva de acesso e explicação do mundo para o homem grego. O
que surgiu como concorrente do pensamento Mítico foram o Logos (do verbo Légein
= Falar) algo como principio racional ou faculdade intelectual dos indivíduos,
nesse sentido a palavra Logos tem lugar de destaque no desenvolvimento da atividade
do filosofar. Desde a sua gênese a tradição filosófica pode ser vista como o desdobramento
das discussões e análises elaboradas pelos primeiros pensadores mais
sistemáticos que tivemos (Platão e Aristóteles).
2
CONTRIBUIÇÃO DE PLATÃO E ARISTÓTELES
2.1
A linguagem como objeto de reflexão filosófica
Sócrates
percebia o dialogo como a mais adequada via de acesso à verdade. Foi no dialogo
que seu discípulo Platão encontrou o principal recurso para expor suas ideias.
A filosofia platônica tem forma e conteúdo relacionado nesta estrutura
dialógica (no dialogo), dialético como ciências que direciona as coisas
superiores, das formas perfeitas e imutáveis da dimensão inteligível. Tendo a
linguagem papel essencial no pensamento filosófico, tanto na forma quanto no
conteúdo. No Crátilo (dialogo entre Hermógenes, Sócrates e o próprio Crátilo),
versa sobre as principais perspectivas na antiguidade a cerca do problema da
linguagem, onde investiga acerca da natureza da relação que existe entre
palavras e coisas nomeadas por essas palavras.
2.2
Naturalismo e Convencionalismo (ponto de vista opostos)
NATURALISMO
– Representado pela figura de Crátilo, que sustenta que a relação entre palavra
e coisa é natural, isto é, que cada objeto na realidade tem um nome correto que
lhe pertence por natureza. CONVENCIONALISMO – As palavras se associam às coisas
por mera conversão, portanto, não há nada nas palavras que pode nos revelar a
realidade das coisas.
Segundo
Manfredo de Oliveira, Platão vai conduzir a discussão de maneira a assumir uma
posição intermédia entre esses dois extremos (Naturalismo e Convencionalismo),
levando a reflexão pouco a pouco a uma tomada de posição em relação à essência
da linguagem e sua função ao conhecimento humano.
2.3
Relação de isomorfismo entre linguagem e realidade
EQUIDADE
(igualdade) entre a ESTRUTURA GRAMATICAL E ESTRUTURA ANTOLÓGICA DO MUNDO (antológica
= real, realidade). Platão não sustenta 1) o Naturalismo radical onde
poderíamos identificar o significado de uma palavra através da própria forma do
som, sugere na afinidade natural entre os sons e suas a significação, como se
os sons refletisse a própria essência das coisas; e, 2) nem admite um Convencionalismo radical, onde a
conversão não é arbitrária, a conversão se constrói com o próprio uso da língua,
se estabelece na tradição de um povo, a linguagem enquanto instrumento de
comunicação necessita que seus falantes utilizem palavras no mesmo sentido,
assim a conversão da língua se caracteriza por um processo de normatividade
desenvolvido pela tradição do qual esta língua faz parte. Entretanto esse
convencionalismo se limita por conta da exigência do isomorfismo entre
linguagem e realidade ou entre linguagem e ser. Nesse sentido as palavras devem
no ato do seu estabelecimento corresponder à essência das coisas que no sistema
platônico corresponde aos eidos. A linguagem comunica e se corresponde através
das coisas e é nisso que reside todo o poder comunicativo e cognoscitivo,
apesar de que o real ainda em seu sistema possa ser conhecido sem o intermédio
linguístico.
2.4
Como ocorrem à associação entre palavras e coisas (direta ou intermediada por
algo)?
Aristóteles
(filosofia do estagirita), funda a disciplina lógica com estudos sobre a
poética, a retórica e o tratado da interpretação, sendo nesse último, fornecido
as relevantes analises das noções de nomes verbos e sentenças, assumindo uma
postura convencionalista diante da significação de uma sentença, isto é, afirmando
que toda da sentença é dotada de significado não por uma naturalidade, mas por
uma conversão (definindo a distancia entre linguagem e ser), elaborando a
teoria da significação.
Mesmo
retomando a linguagem como algo secundário diante do conhecimento do real
(perspectiva platônica), sustenta que não se acessa ao ser sem mediação
linguística, há uma relação entre as palavras faladas e as palavras escritas
(que chama de afecções da alma), ou seja, as palavras escritas são símbolos das
palavras faladas e as palavras faladas por sua vez são símbolos das afecções da
alma.
As
palavras escritas ou faladas podem vim a serem diferentes em diferentes homens,
no entanto, não ocorrem com as afecções da alma, que são as mesmas para todos
os homens. Dessa forma, para Aristóteles, são as afecções da alma que
intermediariam as relações entre as palavras e as coisas do mundo, sendo essas
entendidas como entidades mentais dotadas de conteúdo cognitivo (marcas
produzidas em nossas mentes pela realidade externa).
3
O OLHAR DA MODERNIDADE FILOSÓFICA
O
PENSAMENTO ARISTOTÉLICO (sua considerações sobre a natureza da sentença; a
relação entre linguagem e mente; e, relação entre linguagem e realidade), foram
retomadas por Gottlob Frege no século XIX (em suas considerações de ordem
semântica e filosófica). Qual o uso feito pela modernidade filosófica do legado
deixado pela antiguidade no que diz respeito à linguagem? Quais as
contribuições filosóficas modernas mais relevantes da reflexão sobre a
linguagem?
3.1
A escola de Port-Rayal
Com
O livro: Lógica, ou Filosofia de Pensar Escrito por Antoine Arnauld e Pierre
Nicole (1662) e A gramática geral e razoável, escrita por Arnauld e Claude
Lancelot (1660), os estudos de Lógica, Linguagem e pensamento desse grupo de
intelectuais franceses influenciou decisivamente norteando profundamente o
pensamento moderno dessas áreas até o século XIX.
Enquanto
John Locke reuniu sobre o termo ideia uma gama de coisas sobre: imagens
mentais, pensamentos, conceitos, sensações corpóreas e percepções sensoriais, o
1º capitulo do Livro de Lógica de Port-Rayal apresenta a seguinte definição: “A
palavra ideia é uma dessas que são tão clara que não podemos explicá-la por
meio doutra, uma vez que não há nenhuma outra que seja mais clara, em simples”.
Essa clareza e objetividade marca o próprio caminha da filosofia analítica que
nasce no fim do século XIX.
3.2
Arnauld (e companhia)
PARA
ARNAULD (e companhia), as ideias serviam como mediador entre o individuo e o
que está fora dele, ou seja, é somente através das ideias que podemos conhecer
o que está fora de nós. O principio de classificação usado por Arnauld e Nicole
para definir o que é uma ideia sofre influencia do cartesianismo, assim, uma
ideia é qualquer objeto que seja contemplado por uma pessoa (um ser pensante),
sem que assuma um compromisso existencial com outra coisa que não seja a
própria pessoa (que assuma o compromisso exclusivamente com o ser pensante, o
eu mesmo).
O
sentido da palavra objeto é o objeto que está no sentido do sujeito (não é
objeto do tipo: cinzeiro, chave, etc), ou seja, tudo aquilo que se venha a ver
mentalmente, assim, o pensar é um objeto chamado ideia. Descarte em suas regras
(pensamento se faz influente nas considerações de Port-Rayal) para o
direcionamento do espírito (1628), apresentava uma associação entre pensamento
e visão, mas associar o pensamento e a visão ainda é uma metáfora (porque ideias
não são imagens visuais no sentido estrito que podemos ver mentalmente, pois,
algumas ideias que o individuo vem a ter não se forma completamente na mente).
Na
modernidade o interesse dos filósofos era muito mais em evitar as dificuldades
que a linguagem poderia causar na especulação filosófica buscando o acesso
direto e cristalino das ideias. No entanto o século XVIII preparou o terreno
para a ciência da linguagem (a linguística), influenciada por Johann G. Von
Herder (1744 – 1803) com Ensaio sobre a origem da linguagem e estudo
comparativo entre a língua oriental e europeia de Wilhelm Humboldt sobre as
diferenças da estrutura da linguagem do homem.
3.3
Leibniz e Georg
Leibniz
(1646 – 1716) sustentava uma perspectiva voltada para o pensamento analítico aos
conceitos disciplinadores da razão (como especular uma projeto de linguagem
universal conceitual) e Georg Hamann (1730 – 1788), que via a origem da
linguagem para alem dos ditames da reflexão racional, para ele essa origem
residia no sentimento e na força criado desse campo, na força poética criadora
influenciaram profundamente o pensamento de Herder.
Referência
BRAIDA, Celso Reni. Filosofia da linguagem. Florianópolis:
UFSC, 2009.
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