OPRIMIDO E OPRESSOR: POR PAULO FREIRE (Recorte de citações)
O
grande problema está em como poderão os oprimidos, que “hospedam” ao opressor
em si, participar da elaboração, como seres duplos, inautênticos, da pedagogia
de sua libertação. Somente na medida em que se descubram “hospedeiros” do
opressor poderão contribuir para o partejamento de sua pedagogia libertadora.
Enquanto vivam a dualidade na qual ser é parecer e parecer é parecer com o
opressor, é impossível fazê-lo. A pedagogia do oprimido, que não pode ser
elaborada pelos opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica
– a dos oprimidos por si mesmos e a dos opressores pelos oprimidos, como
manifestações da desumanização. (FREIRE, 1987, p. 17)
O
“medo da liberdade”, de que se fazem objeto os oprimidos, medo da liberdade que
tanto pode conduzi-los a pretender ser opressores também, quanto pode mantê-los
atados ao status de oprimidos, é outro aspecto que merece igualmente nossa
reflexão. (FREIRE, 1987, p. 18).
A
liberdade, que é uma conquista, e não uma doação exige uma busca, busca
permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém se
liberta para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a
tem. (FREIRE, 1987, p. 18).
Sofrem
uma dualidade que se instala na “interioridade” do seu ser. Descobrem que, não
sendo livres, não chegam a ser autenticamente. Querem ser, mas temem ser. São
eles, e ao mesmo tempo são o outro introjetado neles, como consciência
opressora. Sua luta se trava entre serem eles mesmos ou serem duplos. Entre
expulsarem ou não o opressor de “dentro de si. Entre se desalienarem ou se
manterem alienados. (FREIRE, 1987, p. 19).
O
opressor só se solidariza com os oprimidos quando o seu gesto deixa de ser um
gesto piegas e sentimental, de caráter individual, e passa a ser um ato de amor
àqueles. Quando, para ele, os oprimidos deixam de ser uma designação abstrata e
passam a ser os homens concretos, injustiçados e roubados. Roubados na sua
palavra, por isto no seu trabalho comprado, que significa a sua pessoa vendida.
Só na plenitude deste ato de amar, na sua existência, nas suas práxis, se
constitui a solidariedade verdadeira. Dizer que es homens são pessoas e, como
pessoas, são livres, e nada concretamente fazer para que esta afirmação se
objetive, é uma farsa. (FREIRE, 1987, p. 20).
O
que interessava ao poder do opressor é enfraquecer os oprimidos mais do que já estão
ilhando-os, criando e aprofundando as cisões entre eles, através de uma gama
variada de métodos e processos. Desde os métodos repressivos da burocracia
estatal, à sua disposição, até as formas de ação cultural por meio as quais
manejam as massas populares, dando-lhes a impressão de ajuda. (FREIRE, 1987, p.
80).
Referência
FREIRE,
Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Nenhum comentário:
Postar um comentário