PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: CONTEXTO E PRETEXTO (Recorte de textos)
Por volta de 1970 à educação era baseada na
teoria crítico-reprodutivista, que visava formar pessoas para atuar na
sociedade capitalista. A escola mantinha um autoritarismo, o aluno tinha que
estudar sem muito questionar, deveria aprender para depois reproduzir e
fortalecer o capitalismo. Diante do
cenário tecnicista, os professores começaram a se questionar sobre como atuar
de modo crítico, sem que os alunos fossem meros reprodutores. Segundo Saviani
(1991), a teoria crítico-reprodutivista não pode responder a expectativa dos
profissionais da educação, pois a educação estava centrada na reprodução das
relações de produção, onde a prática-pedagógica estava direcionada a uma
violência simbólica, na qual os alunos eram impostos a agir e pensar sob
coação.
A
educação precisava ser reestruturada com uma nova teoria, a qual deixasse de
formar pessoas sem opiniões, que serviam somente para atuar e favorecer a
sociedade capitalista. A partir de 1979 a educação começou a tomar um novo
rumo, passando a realizar uma análise crítico-dialética sobre a sociedade e não
mais crítico-mecanicista. Entretanto, a análise crítico-dialética da sociedade
permitia aos indivíduos compreender que poderiam agir e realizar uma análise
crítica sobre a sua realidade. Desta forma, Saviani (1991) em seu livro
Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações comentam que:
Consequentemente, a
Educação também interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para a sua
própria transformação. Em suma, a passagem dessa visão crítico-mecanicista,
crítico-a-histórica para uma visão críticodialética, portanto
histórico-crítica, da educação, é o que queremos traduzir com a expressão
Pedagogia Histórico-Crítica. (SAVIANI, 1991, p.95).
A partir de 1979, com a Pedagogia
Histórico-Crítica a Educação passou a formar pessoas capazes de agir e refletir
sobre os fatos ocorridos na sociedade. A educação estava centrada nos
conhecimentos, aonde professor e alunos por meio de diálogos poderiam expor
seus conhecimentos, de modo a contextualizar com diversas dimensões sociais.
Nesse aspecto Libâneo (1992) reafirma a ideia da Pedagogia Histórico-Crítica
apresentada por Saviani (1991) dizendo que:
A Pedagogia
Crítico-Social dos Conteúdos, inspirando-se no materialismo histórico dialético,
constituiu-se como movimento pedagógico interessado na educação popular, na
valorização da escola pública e do trabalho do professor, no ensino de
qualidade para o povo e, especificamente, na acentuação da importância do
domínio sólido por parte de professores e alunos dos conteúdos científicos do
ensino como condição para a participação efetiva do povo nas lutas sociais.
(LIBÂNEO, 1992, p.68-69).
Portanto, entende-se que a Pedagogia
Histórico-Crítica permite aos alunos o diálogo, a exposição de ideias e
estruturação de conceitos. Esta Pedagogia possibilita que os professores e
alunos desenvolvam o processo de ensino e aprendizagem de maneira
contextualizada e interdisciplinar. Sendo assim, os alunos são orientados a
desenvolver uma visão crítica sobre a sua realidade social.
Entretanto, a Pedagogia Histórico-Crítica não
possuía ainda uma didática específica. Desta maneira, o professor João Luiz
Gasparin se interessou pela pesquisa nessa área e realizou vários estudos. O
seu estudo de aproximadamente 10 anos, resultou em um trabalho muito
significativo, que é o livro Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica,
sendo publicada a primeira edição em 2002. O livro apresenta cinco fases ou
momentos para elaboração de um plano de aula.
A primeira fase é a Prática Social Inicial do
Conteúdo que é o momento de mobilizar o aluno, realizar perguntas,
questionamentos, fazer com que o aluno sinta curiosidade em adquirir um novo
conhecimento. Gasparin (2012, p.29) comenta que “Esses conhecimentos devem ligar-se
às necessidades dos alunos e à realidade sociocultural como um todo.”.
Entretanto, os conteúdos a ser ensinados e aprendidos pelos alunos, devem estar
relacionados com a realidade, para que sejam formados cidadãos participativos e
conscientes de sua contribuição para a sociedade.
Na Problematização, que é a segunda fase, é
iniciado o trabalho com o conteúdo científico. Nesta fase é elaborado
problemas, os quais devem ser investigados para serem solucionados. Desta
maneira, o aluno verifica que é necessário buscar conhecimentos para formar um
novo conhecimento. Segundo o autor: “O processo de busca, de investigação para
solucionar as questões em estudo, é o caminho que predispõe o espírito do
educando para a aprendizagem significativa, uma vez que são levantadas
situações-problema que estimulam o raciocínio.” (GASPARIN, 2012, p.33).
O conteúdo deve ser problematizado em várias
dimensões, podendo ser: Conceitual/científica; Histórica; Social; Legal;
Religiosa; Cultural; Psicológica; Política; entre outras. Deste modo, o aluno
irá contextualizar o conteúdo com outras áreas que talvez nem imagina-se que
fosse possível, isto porque, as vezes o conteúdo é trabalhado somente na
dimensão conceitual/científica.
A Instrumentalização caracteriza a terceira
fase, que representa as ações didático-pedagógicas realizadas pelo professor.
Segundo Gasparin (2012), nesta fase é construído o conhecimento científico
através da mediação do professor, que é o mediador social do conhecimento
científico. Os alunos apropriam-se de um novo conteúdo que é o objeto social do
conhecimento científico, passando a reformular seus conceitos e ideias, se
tornando um sujeito social do conhecimento científico.
A quarta fase é a Catarse que é o momento da
demonstração dos conhecimentos aprendidos, o aluno apresenta a solução do
problema elaborado na problematização. Neste momento, o aluno realiza uma
síntese em relação ao conteúdo e uma avaliação.
E por último é apresentada a Prática Social Final do Conteúdo, que
significa uma nova forma de atuar, partindo dos conhecimentos adquiridos pelas
fases anteriormente citadas. Na Prática Social Final, o aluno é capaz de
iniciar uma prática com mais compreensão de sua realidade em várias
dimensões.
REFERÊNCIAS
GASPARIN,
João Luiz. Uma didática para a Pedagogia
Histórico- Crítica. 5 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2012.
LIBÂNIO,
José Carlos. Didática. São Paulo:
Cortez, 1992.
SAVIANI,
Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica:
primeiras aproximações. São Paulo: Cortez, 1991.
SAVIANI,
Dermeval. Escola e democracia. 42
ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2012.
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